sábado, 7 de fevereiro de 2015

Polifonia


I
Com o seu surgimento no século IX e desenvolvimento ao longo da história, a polifonia iniciou com a idéia de embelezar a música ritualística do canto gregoriano, com intervalos fixos baseados nas notas da melodia, sendo que esta fica com mais de uma voz. A diferença entre uma voz e outra podia ser maior ou menor que uma oitava justa. Já quando uma monodia (melodia de uma só voz) era entoada por diferentes vozes, mesmo que de diferentes tessituras, as notas eram as mesmas para todas as vozes. Por exemplo, usando as classificações atuais de tessitura de voz, se um soprano cantasse um Dó, o tenor também cantava um Dó, em diferentes oitavas. É importante lembrar que a música não polifônica continuou a existir sendo base para a criação de melodias principalmente em ambientes como catedrais e conventos.
O órgão era utilizado para ajudar na condução de vozes, dando a altura correta das notas a serem cantadas. Desse costume, surgiu a nomeação Organum. O tratado mais antigo encontrado até hoje sobre música polifônica é o Música Enchiriadis, que descreve e exemplifica a polifonia com base em oitevas justas, quintas justas e quartas justas paralelas. Os intervalos são contados a partir da voz principal, Vox principalis, sendo que o dó é a nota mais grave.

Diafonia (ou Organim Paralelo)
A diafonia é um sistema de cantos com intervalos paralelos, esses intervalos ocorrem de nota contra nota, e de melisma contra melisma.
Notas em sustentação (também conhecidos como organum) tem a melodia sustentada pela Vox Principalis e a vox arganalis fazendo melismas, com notas entre as duas vozes atacadas no mesmo tempo.
Exemplo:

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Organum Primitivo:

É quando uma melodia de cantochão, originalmente cantada por uma voz, a "vox principales" (voz principal), é cantada por uma outra voz, a vox organalis, em dois intervalos de quartas e quintas, sendo que ambas as melodias podem ser duplicada uma oitava acima.(imagem e exemplos abaixo)

Exemplos:

            Sempre são usados dois intervalos consonantes, considerados perfeitos (quartas, quintas e oitavas).
-O estético é valorizado com ritmo prosódico, e com o intervalo de quarta aumentada sendo sempre evitado, trocando-o por outro intervalo consonante.

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II
Para entender melhor a história da polifonia, é necessário voltar ao canto gregoriano e fazer um pequeno esboço de retrospecto histórico, pois ambos estão intimamente ligados. O canto gregoriano (ou cantochão) tem função e caráter ritualístico, sendo uma das formas de unificar e estabilizar a igreja cristã. Tem esse nome em homenagem ao papa Gregório Magno, idealizador da forma para unificar e padronizar a igreja. Era cantado apenas por homens, não tinha pulso e o ritmo se dava a partir da prosódia. O texto era em latim, considerada a língua sagrada da igreja.
No século X, houve a primeira intenção de polifonia, adicionando quar-tas, quintas e oitavas justas à voz principal, na tentativa de realçar a estética do canto. O uso desses determinados intervalos está relacionado às relações nu-méricas entre a freqüência da nota fundamental e a freqüência da nota a partir do intervalo, por exemplo, uma oitava justa acima tem o dobro da freqüência da nota fundamental.

Organum Livre:

No século XII, a vox organalis deixa de ser criada com base em dois intervalos fixos. Passa a ser, preferencialmente, composta com base em intervalos consonantes em uníssono, quartas, oitavas ou terças. Sendo que os intervalos diferentes (dissonantes) devem ser resolvidos imediatamente após aparecerem na música.
Exemplos:




A compreensão do texto continua difícil, mesmo o texto sendo cantado em alturas diferentes. O ritmo continua a ser prosódico com base no latim.
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ST Martial
É do século XII, é composto e notado. O nome provém do convênio de St. Martial na parte sul da França. Lá se desenvolveram dois tipos de canto, com duas divisões técnicas. O primeiro canto é o de condução e o segundo é o de tropos do Benedicamos Domino, ambos com função ritualística.

Organum Melismático:
         É evidente a evolução da polifonia e dos modos de composição, no século XII. Auxiliados pela notação, a vox principalis passou a ser colocada nas alturas mais graves, com durações maiores, e vox organalis, em oposição, que passou a ser mais ágil e mais aguda, fazendo o papel de solista.
         O organum melismático é uma evolução da polifonia que tira o sentido principal do canto gregoriano, que era ritualístico de ritmo prosódico, e traz um texto compreensível, para um canto de ordem estética com atenção para a vox organalis, que mantém a atenção por ser mais aguda e rápida. É também conhecido como ST. Marcial por causa dos manuscritos encontrados em uma abadia de mesmo nome na França. 
Exemplos:

IV

Notre Dame
         Os cantos vindos da catedral de Notre Dame eram destinados à liturgia. Naquele tempo, desenvolveram-se ritmos ternários de andamento rápido. Na catedral de Notre Dame se destacaram dois grandes mestres de coro: Leonim e o seu sucessor Perotin. Leonin usou a composição silábica, na qual para cada nota havia uma sílaba, e melismas na voz superior (o que caracteriza o duplum). Perotin inseriu ainda mais uma voz, que caracteriza o triplum.



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Referências: 
GROUT, Donald J.; PALISCA, Claude V.; Historia da Música Ocidental, 5ª edição. Lisboa: Editora Gradiva, 2007.
MICHELS, Ulrich. Atlas de música I, 1ª edição. Lisboa: Editora Gradiva, 2003.

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