sábado, 7 de fevereiro de 2015

A Arte da Canção Profana

A arte da canção profana: Trovadores e Troveiros, Minnesanger, Meistersinger.

                
                 No inicio do século XII a civilização ocidental passava por significativas mudanças sociais, uma época de renascimento, as universidade tomam frente à influência intelectual, instituições não apena voltadas para o ensino, mas também ambientes de pesquisa e produção de conhecimento.  A economia rural se torna obsoleta de fronte ao constante aumento populacional, as Comunas começam a se multiplicar graças à sede burguesa de se libertar do sistema feudal, a expansão comercial da força a essa busca por liberdade, estradas e cidades se desenvolvem levando a uma nova organização político/social da burguesia que agora é também urbana. Todas as mudanças corroboram uma nova fase, o renascimento de uma arte, música e literatura livres da influência religiosa, abrindo caminho para o nascimento do pensamento profano.
                Outra mudança que marcou essa época se da no âmbito do comportamento, na forma de conviver dentro das cortes, os castelos eram microcosmos, auto-suficientes, onde uma vida extremamente peculiar se organizava, a vida de corte. E é nesse ambiente que nasce o espírito cortês, qualidade fundamental dessa vida, cortesia, não se resumia apenas a bons modos, era à base da sociabilidade, dos sentimentos nobres. O papel da mulher se modifica em meio a tudo isso, a mulher que antes era submissa e frágil se torna o centro das atenções, mudança atestada por um diversificado número de poemas e músicas exaltando o amor dessas damas.

Trovadores e Troveiros
               
                 Trovador, aquele que inventa, descobre de caráter criativo, músicos que foram além de compositores também poetas, originários do sul da França, mais especificamente da região de Provença, escreviam na chamada langue d’oc, a língua occitana que ainda é falada em algumas regiões rurais francesas. Essa arte rapidamente se difundiu para o norte da frança e lá os Troveiros foram seus representantes, esses que escreviam na langue d’oil, dialeto francês medieval que deu origem ao francês moderno, mas se deve lembrar que os troveiros são posteriores aos trovadores. Tanto a arte quanto o artista apareceram em meio à aristocracia, homens de alta posição e notoriedade, o artista podia ascender de classe social através do seu talento sendo assim tratado com a mesma formalidade que os mais privilegiados já usufruíam, em geral eram independentes e não trabalhavam para ninguém.

Retrato de Adam de La Halle, 
em uma miniatura do Cancioneiro de Har.
                Além de compositores muitos deles eram os próprios interpretes, e quando não, passavam essa tarefa aos menestréis: músicos itinerantes de múltiplos talentos. Como toda música que é transmitida oralmente essas composições sofrem alterações e se transformam em versões, interpretações de cada menestrel. Algumas dessas cantigas chegaram a ser notadas e conservadas em coletâneas chamadas de cancioneiros, entre as principais estão a da Biblioteca Nacional da França e a da Biblioteca Ambrosiana de Milão, ainda em notação quadrada, sem nenhuma duvida sobre a altura das notas, mas sim sobre seus valores rítmicos, justificando assim a diversidade rítmica encontrada nas interpretações modernas. Canções que utilizavam as mais variadas estruturas formais, mostrando a engenhosidade dos compositores, desde baladas simples a baladas mais dramáticas, que sugerem monólogos e atuações de dança.  Os temas abordados eram dos mais diversos, mas sempre retratavam a realidade como o poeta a vivia, cruzadas, agitações sociais e políticas, algumas aventuras guerreiras, mas acima de tudo está o amor, tema preferido dos trovadores, o amor que é transposto para um nível mítico e fantasioso.  Já no norte os troveiros além destes temas também abordam temas religiosos, mas somente no final do século XIII.
                Uma arte que sintetiza de forma única a poesia e a música na Idade Média, síntese comprovada no tratamento melódico, em sua maioria silábico de poucos melismas que apareciam nas ultimas silabas dos versos, sempre lembrando a característica interpretativa que abria espaço para improvisação, modificando a melodia de estrofe para estrofe, a altura das melodias era de certa forma limitada, e raramente ultrapassavam uma oitava. Uma das questões não esclarecidas sobre essas canções está na rítmica, a falta de notação com certeza prejudica, existem diversos pontos de vista, alguns dizem que o ritmo era livre, sem compasso, assim como a notação parece sugerir, outros apontam para uma rítmica bem definida e regular, correspondendo à acentuação silábica das palavras, de rítmica prosódica.  As cantigas dos trovadores se mostram um pouco mais sofisticadas, de concepção aristocrática, um tratamento rítmico mais complexo, pelo contrario os troveiros mostravam uma configuração mais clara e bem definida, curtas e de fácil memorização, expressando em sua maioria uma conexão com o folclore francês.
                A organização da estrutura formal utiliza de repetição, variação e contraste, criando assim uma simples caracterização dessa estrutura formal, a repetição do verso inicial marca a entrada ao trecho de estilo livre, mas essa organização só é com certeza aplicada à poesia, como as notações são poucas tudo é muito vago e incerto no que diz respeito à parte musical. Os troveiros apresentam inúmeras canções com refrões, versos e pares de versos recorrentes no texto poético, indicando repetição da frase musical correspondente, elementos importantes para a estrutura, evidenciando uma possível ligação com a dança, refrões poderiam marcar a parte do coro onde todos cantavam juntos, e quando estas perderam a conexão com a dança esse refrão pode ter se tornado um trecho solo.                              Sachs Hans, retrato em xilografia.

                Entre os trovadores, quatro deles tiveram a honra de serem citados na Divina Comédia de Dante Alighieri, Bertran de Born, Guiraut de Broneilh, Arnaud Daniel e Foulques de Marselha. Um dos mais celebres trovadores foi Bernard de Ventadour, de família simples, que construiu sua reputação em cima de seu inigualável talento, sua popularidade é confirmada pela grande quantidade de cantigas que figuram em vários manuscritos, os cancioneiros. Algumas mulheres também exerceram a atividade, chamadas detrobairitz, a mais famosa delas foi a Condessa de Die, Beatriz. Já entre os troveiros do norte podemos citar mais nomes femininos como Maria de Champagne e Aélis de Blois, um dos pioneiros foi Chrétin de Troyes, também podemos citar Gacê Brule o maior de sua geração.


JEU DE ROBIN ET DE MARION - Adam De La Halle

É a mais famosa peça teatral com música, o ultimo e o maior de todos os troveiro, composto cerca de 1284. Não há certeza se todas as cantigas desta obra serão da autoria do próprio Adam ou se é uma junção de várias peças populares. Algumas delas têm arranjos polifônicos.
Marion mostra um ótimo exemplo de cantiga melodiosa, com refrões a cargo do coro, no início do Jeu, Robins m'aime. E urn rondel monofônico com a forma ABaabAB (cada letra corresponde a uma frase musical diferente, as maiúsculas as que são cantadas pelo coro e as minúsculas as cantadas a solo).


                                    Can vei la lauzeta - Bernard de Ventadorn

As melodias das canções de trovadores e troveiros era geralmente de forma silábica, porém em algumas vezes se encontra uma breve figura melismaitica, executadas nas penúltimas silabas dos versos, como em Can vei lauzeta mover do trovador Bernart de Ventadorn. Nesta canção as duas primeiras estrofes tratam apenas das lamentações do amante. 


                 La comtessa de Dia. Cansó: A chantar m'er de so qu'ieu non volria
Nesta cantiga estrófica há quatro componentes melódicas distintas, quase todos os versos tem terminações femininas.

Minnesinger e Meistersinger
                
                Tendo como modelo a arte dos trovadores, os Minnesinger, alemães que também cantavam o amor de uma forma ainda mais abstrata e se possível dizer, religiosa. A música é mais equilibrada e baseada nos modos da igreja, a maioria das canções os Minnelieder eram em compasso ternário, de organização estrófica, onde as melodias eram mais limitadas com bastante uso de repetição. Alguns dos temas explorados pelos Minnesinger eram descrições de cenas da natureza, como louvores a primavera e a alvorada.        
                Já os Meistersinger eram outra escola alemã, porem baseada na arte dos troveiros, a partir do século XIV, onde os burgueses tomavam a frente, pessoas normais e cultas que preservavam um peculiar interesse pela arte, interesse que foi retratado na ópera de Wagner, Os Mestres Cantores de Nuremberga, o herói da ópera foi um Meistersinger que viveu no século XVI, Hans Sachs.  
              

Hofton - Konrad von Würzburg

Referências:
GROUT, Donald. História da música ocidental. Lisboa: Gradiva, 2011.

BENNET, Roy. Uma breve história da música. Rio de Janeiro: Zahar 1986
CANDÉ, Roland de. História universal da música vol.1. São Paulo: Martins Fontes 2001


Kelson Diego Batista Barbosa, GRR20113192, 41-9603-7050, kelsondiegobb@gmail.com
Ary Fernando Piotrowski, GRR20111065, 41-9665-9798, nando.piotrowski@hotmail.com
Daniel Bettega, GRR 20111555 ; 87166162 ; daniel.bettega@hotmail.com

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