sábado, 7 de fevereiro de 2015

Escola de Notredame


Escola de Notre-Dame



        No início do século XII, nas ricas e poderosas cidades de Flandres, ao norte da Bélgica, todas as formas musicais começaram a ser assenhoreadas pelo estilo polifônico e não demorou muito para que ele as dominasse. Apesar de ainda não existir o sentimento de harmonia (combinação vertical de sons simultâneos) como o que temos hoje em dia, podemos sentir a polifonia de forma horizontal entendendo-a como curso simultâneo de diversas linhas melódicas se desenvolvendo paralelamente seguindo as rígidas regras contrapontísticas que visavam consonâncias ou a imediata resolução de intervalos dissonantes.

         A primeira anotação de um cânone polifônico, apesar de registrar-se na Inglaterra, no vigésimo ano do século XIII, com o chamado “Cânone de Verão” (-“Sumer is i-cumen in’’-), pode se considerar como primeiro documento de uma grande forma musical polifônica para três vozes a ‘’Missa de Tournay’’(feita em 1350). Escrito para quatro vozes, consideramos a missa criada por Giullaume de Machault em 1364, para a coroação de Carlos V da França, nela o estilo polifônico se torna mais livre e complexo. Quando ouvimos trechos dessas polifonias com sua multiplicidade de melodias simultâneas e seus duros acordes (que não são acordes para nossa noção atual de harmonia), temos uma incrível sinestesia, onde nossos ouvidos nos levam a ver uma esplendida época profundamente mística.
       Com a necessidade de avançar tecnicamente na música, os compositores polifônicos criaram uma escola pioneira no ramo, a Escola de Notre-Dame. Ela exercia suas atividades em torno de Paris, Beauvais, Sens e outras localidades do Centro-Norte de França. Seus dois principais compositores eram o poeta e músico Léonin (c. 1159 – c. 1201), cônego da catedral Bienheureuse-Vierge-Marie de Paris, a futura Notre-Dame,  e Pérotin (c. 1170 – c. 1236) que foi seu sucessor. 

       Léonin teve sua primeira referência escrita apenas depois de mais de um século após sua morte, por um monge que o definiu como "o maior compositor de organum para amplificação do serviço divino". Infelizmente nenhum de seus trabalhos realmente chegou até o século 20, mas acredita-se que ele seja um dos autores do Magnus Liber (O Grande Livro)Este livro é um manuscrito que contém peças de organum , um estilo primordial para música polifônica. Ele envolvia a adição de várias vozes, tanto improvisadas quanto escritas, ao estilo cantochão (também chamado canto Gregoriano). Léonin usava o estilo silábico, ou seja, havia uma nota para cada sílaba e seus valores eram aumentados caso elas fossem tocadas ao invés de cantadas. Já a parte superior, cantada pelo tenor, era repleta de melismas, essa sobreposição de vozes ficou conhecida como duplum. O Magnus Liber foi completado e revisto por Perotin, estipula-se que ele tenha escrito mais de 80 organa a duas vozes.
        Leonin também utilizava do chamado organum clausulal, ele é considerado uma evolução do organun tardio, pois o compositor trabalhava em cima do cantus firmus. Este se desenvolvia de forma usual até um determinado momento em que o andamento aumenta e as notas tem seu ritmo encurtado, o trecho do canto original é feito só de melismas na voz do baixo “o compositor, em vez de alongar as notas desse mesmo melisma na voz inferior e construir sobre cada uma extenso melisma na voz superior (duplum), submetia esta parte do cantus firmus à uma fragmentação segundo uma fórmula rítmica, opondo a ele um discantus uma a quatro notas contra uma da parte mais grave.”(KIEFFER, 1981, p.19-20).
     - Pérotin - Alleluia Nativas



- O cantochão original




       

   - Após modificado com o 
clausulal










Perotin foi o compositor francês a quem se atribui a criação da polifonia a quatro vozes. Trabalhou na mesma Igreja que Léonin, de 1180 até cerca de 1230, na função de mestre de coro. Além de revisar muitos organa anteriores ele fez modificações nas partituras a fim de deixá-los mais modernos e enriquecendo-os com a adição de mais vozes, ou seja, ele acrescentava a um organum duplum, uma terceira ou até mesmo uma quarta voz. No final do século XIII é referenciado como o homem que melhorou e editou o Magnus Liber, julga-se que trabalhou com o poeta Philippe de Chancelier, cujos textos musicou.
        Acredita-se que esses dois marcantes compositores tiveram inúmeros alunos, anônimos à história, dos quais foram encontradas algumas obras e é a eles que nos referimos genericamente como Escola de Notre-Dame. Eles cultivaram os oorganum, o moteto (uma clausula, em que o texto da voz superior era substituído por outro, normalmente em latim) e o conduit (forma mais rudimentar e livre, sem fins litúrgicos, tendo o tenor com uma melodia profana e inteiro cantado em estilo silábico, com exceção do triplum).

Pérotin - Sederunt Principes



Pérotin - Viderunt Omnes

Léonin - Dulce lignum


Léonin - Assumpta est Maria

http://semibreves.blogspot.com/2011/01/perotin.html Acessado em 01/12/2011
http://semibreves.blogspot.com/2011/01/lenin.html Acessado em 01/12/2011
http://pt.cantorion.org/composers/2/Leonin Acessado em 29/11/2011
http://www1.cpdl.org/wiki/index.php/Category:Medieval_music Acessado em 01/12/2011
História da Música Ocidental - Grout e Palisca; 2007
http://www.lastfm.com.br/search?q=L%C3%A9onin&from=ac Acessado em 06/12/2011
http://www.renatacortezsica.com.br/compositores/medievais.htm Acessado em 06/12/2011





















Pérotin - Viderunt omnes







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